Opinião
Albert Camus, a consciência moral negada
Por Arthur Grohs
Doutorando e mestre em Comunicação
Vencedor do Nobel de Literatura de 1957, Albert Camus (1913-1960) comemoraria 110 anos na data de hoje, se por ventura possuísse a habilidade de burlar a morte. Importante personalidade do século 20, sua ascensão e declínio na vida pública francesa formam o atestado da singularidade de seu pensamento. Esse que, ainda hoje, mantém-se perene.
Nascido no interior da Argélia, ainda sob domínio francês, Camus alcançou notoriedade na vida pública francesa após liderar o jornal Combat. A publicação atuou contra a invasão nazista na França e, em seguida, tornou-se um dos principais veículos no país. Isso somado ao crescente êxito editorial de seus romances, O estrangeiro [1942] e A peste [1947], fizeram de Camus "sem dúvidas, o melhor homem na França", nas palavras da filósofa Hannah Arendt, "muito à frente dos outros intelectuais".
A derrocada, no entanto, veio em menos de dez anos; principalmente por tecer críticas ao sistema soviético e seu líder Josef Stalin. Afinal, Camus entendia que a União Soviética havia se tornado um projeto totalitário, legitimado, porém, por seus intelectuais. Não aceitava, portanto, que a violência fosse um expediente, empregada, sobretudo, para fins arrivistas. Dito de outra forma, era contrário à ideia de que os fins justificam os meios. Por sua vez, a esquerda francesa respondeu boicotando o autor. Sendo o principal sintoma do momento, a ruptura entre o argelino e Jean-Paul Sartre, então amigos e dois dos maiores nomes daquela geração.
Por fim, Camus ascendeu e descendeu na vida pública francesa muito rapidamente, deixando, como legado, uma fecunda obra que, dentre outros temas, aborda, também, a moralidade na essência das convenções humanas. Sem se curvar às exigências hegemônicas (sejam elas da direita ou da esquerda), procurou trazer a moralidade e o sentido em tempos em que nada disso tinha valor.
Com o tempo, Camus foi reabilitado, pois sua obra falou mais alto que seus detratores. Tanto que o escritor, atualmente, voltou a figurar entre os mais vendidos do mercado editorial do Brasil. Sendo, em especial, impulsionado pelo estrondoso aumento de 3.900% nas vendas de A peste, durante a mais recente pandemia. Isso, por seu turno, motivou a editora Record, em 2021, 2022 e 2023, a acrescentar outras obras do autor ao seu catálogo. Esse, talvez, seja o dado fundamental para se perceber o interesse do público leitor no pensamento desse autor.
O momento histórico e político atual parece atestar o desmoronamento de princípios, ou, mesmo, de civilidade. Percebe-se que, tal qual a época de Camus, a política e o campo de batalha não parecem estar muito distantes. A barbárie aparenta estar incorporada na essência de certos discursos políticos. Logo, a leitura da obra de um pacifista humanista, como o jornalista argelino, soa, atualmente, como um ato de defesa pela própria humanidade que reside em cada um, e que merece sempre ser aguçada.
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